quarta-feira, 25 de maio de 2011

Transmissão dimensional do tempo

A flor abriu hoje. Sem saber porém, se no momento seguinte seria bruscamente pisoteada. Não temeu ela, que uma abelha roubasse seu doce, abriu mesmo sem saber se a chuva demoraria, ela secaria, e morreria. Abriu, coloriu, perfumou. Abriu sem saber se seria útil que ela abrisse, abriu sem saber se alguém estava olhando. Abriu sem saber se um fotógrafo a notaria e a transformaria em uma celebridade. Abriu sem saber se seria devorada por um dinossauro vegetariano. Ingénua gastou todas as suas forças para abrir essa manhã, sem saber porque. Abriu para quem? Para quê? Não se sabe. Abriu sem garantias.

O sol nasceu hoje. Sem saber porém, se no momento seguinte seria estocado pelas nuvens. Não temeu ele que a lua lhe provocasse um eclipse? Não temeu que estivéssemos ocupados demais para notá-lo? Não temeu que não queríamos seu calor. Nasceu sem saber porque, iluminou como nunca se viu sem saber se desejávamos que viesse o dia. Não se entende.

E e eu acordei hoje. Sem saber se o sol nasceu, se a flor abriu. Acordei cedo, para que um dia eu possa dormir mais. Fui trabalhar, para que um dia eu possa trabalhar menos. Fui estudar, para que um dia eu saiba tudo. Comi, para que um dia me alimentasse bem. Escovei os dentes para que um dia eles não caiam. Caminhei para um dia poder andar de carro. Tudo que eu fiz eu sei porque. Fiz pelo futuro. O que não sobrou foi um tempo para fazer algo que seja para agora. Quando afinal chega esse tempo para o qual estamos nos sacrificando tanto. (??? )

Estranho fenómeno de transmissão dimensional de tempo. (!!!)